Quando os Fatos Não Se Encaixam na Agenda
Ou "porquê virtue-signalling eventualmente revelará sua hipocrisia".
Na manhã do dia 27 de Outubro de 2018, Robert Bowers, morador de Pittsburgh, USA, tomou uma decisão: após desabafar nas redes sociais, invadiu uma sinagoga e abriu fogo contras os judeus lá presentes. No total, 11 pessoas foram mortas.
Bowers será indiciado por “crime de ódio” e, caso condenado, deverá enfrentar a pena de morte.
O atentado é tido como o ataque mais mortal aos judeus na história dos Estados Unidos de acordo com a Anti-Defamation League.
A imprensa logo correu para acusar Bowers de alt-right. De fato, supremacistas brancos têm histórico anti-semita e a associação é natural. No entanto, popularizou-se nos Estados Unidos recentemente a ideia de que tais extremistas são associados ao presidente Trump. Não é o caso de Bowers. Na mesma rede social onde declarou estar indo ao ataque, ele destilou críticas a Trump e afirmou que o atual presidente não recebeu o seu voto.
“I can’t sit by and watch my people get slaughtered. Screw your optics, I’m going in.” — Bowers na rede social Gab
O ocorrido é lamentável e pode ter pego muita gente de surpresa, mas o fato é que os casos anti-semitas tem aumentado nos Estados Unidos. De forma até surpreendente, o New York Times publicou essa semana uma matéria com um título reflexivo: é seguro ser judeu em Nova Iorque?
Ao contrário do que popularmente acreditado, metade dos crimes de ódio em Nova Iorque tem judeus como alvos. Comparativamente, são 4x mais do que contra negros e 20x mais do que contra transgêneros.
Os números são impressionantes, não porque outros grupos são menos importantes — crimes de ódio são abomináveis e deve ser punidos como tal. No entanto, a cultura popular e a cobertura da mídia tem sido absolutamente desproporcional — e não em favor da comunidade judaica.
Se os números são tão desproporcionais, por que eles não fazem parte do noticiário?
A resposta para essa pergunta é o título desse texto: pois os fatos não se encaixam na agenda.
Dave Rubin, assim como muitos, se surpreenderam com a exposição clara da hipocrisia da esquerda neste caso em particular. Segundo o NYT:
During the past 22 months, not one person caught or identified as the aggressor in an anti-Semitic hate crime has been associated with a far right-wing group, Mark Molinari, commanding officer of the police department’s Hate Crimes Task Force, told me.
E em outra passagem:
In fact, it is the varied backgrounds of people who commit hate crimes in the city that make combating and talking about anti-Semitism in New York much harder (…)
O que nos faz concluir (e o que me deu a inspiração para esse texto):
That anti-Semitism would go unchallenged (and the fight against it unchampioned) just because it didn’t fit a particular narrative, is disgusting. — Brad Thor
Anti-Semitismo não se encaixa na narrativa da esquerda. Não existe um grupo opressor bem definido na outra ponta. Os agressores, podem apoiar Trump ou odiá-lo — como Robert Bowers demonstrou. Não é fácil apontar dedos. Não existe um grupo específico a se atacar. Resultado? Melhor fingir que não ocorre.
Em outros atentados famosos, como na boate Pulse em 2016 e numa escola do Texas no início desse ano, o call to action foi muito maior. Novamente, não é meu objetivo relativizar tragédias nem desmerecer a dor e o sofrimento das vítimas e seus familiares afetados. Mas sim, entender que quando uma determinada agenda política está envolvida, o melhor a se fazer é analisar a situação friamente.
Na tragédia da boate Pulse, além do resultado lamentavelmente maior (foram 49 mortos no total), o fato de ser um gay nightclub expôs a intolerância ao mundo inteiro. Já em Santa Fé, onde um adolescente de 17 anos abriu fogo em sua escola e deixou 10 mortos, a retórica contra o desarmamento populou os noticiários por meses (convenientemente ignorando que possuir uma arma nessa idade e carregá-la até uma escola são infrações legais).
Porém, na tragédia de Pittsburgh, não há ganho político claro em debatê-lo. A direita sai enfraquecida? Certamente não da mesma forma como seria se o massacre tivesse sido direcionado a transsexuais.
Se não há ganho claro, só nos resta lamentar pela comunidade judaica, os reais perdedores do episódio. E entender que identity politics, um jogo bastante jogado no mundo ocidental atual, não se interessa pela realidade quando os fatos não se encaixam na agenda.